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Foto do escritorTatiane Motta

União Estável: meu companheiro faleceu. E agora?


Neste artigo você irá entender como funciona o reconhecimento da união estável post mortem, ou seja, após o falecimento de um dos companheiros, seus efeitos legais e patrimoniais, e a importância de comprovar o relacionamento para garantir direitos sucessórios.


Antes de iniciarmos, recomendo que leia este artigo: "Morando junto: devo formalizar a união estável?". Aqui eu explico melhor sobre o que é a união estável e a importância de formalizá-la.


E se a união estável não foi formalizada em vida e um dos companheiros faleceu? Esse é um cenário que pode gerar dúvidas e conflitos, mas não se preocupe: neste artigo, vamos explicar como é possível buscar o reconhecimento da união estável após o falecimento e garantir os direitos do companheiro sobrevivente.



O QUE É UNIÃO ESTÁVEL "POST MORTEM"?


Meu companheiro faleceu, e agora?


A união estável post mortem é o reconhecimento judicial de uma união estável após o falecimento de um dos companheiros. Esse reconhecimento é fundamental para que o parceiro sobrevivente tenha acesso a direitos patrimoniais e sucessórios, como a partilha de bens e pensão por morte.


De acordo com o artigo 1.723 do Código Civil e o artigo 226, parágrafo 3º da Constituição Federal, a união estável se caracteriza por uma convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituição familiar. Mesmo que não tenha havido formalização em vida, o Estado reconhece a união estável desde que comprovados esses elementos.


Perceba que, ao formalizar a união estável, seja por escritura pública ou instrumento particular, os companheiros garantem uma segurança jurídica muito maior. Isso porque, com a formalização, não será necessário depender da decisão de um juiz — alguém alheio à realidade do casal — para reconhecer o vínculo. Sem essa formalização, mesmo com boas provas, ainda existe o risco de que os direitos não sejam plenamente assegurados.



DIREITOS GARANTIDOS AO COMPANHEIRO SOBREVIVENTE


Uma vez reconhecida a união estável post mortem, o companheiro sobrevivente passa a ter direitos similares aos de um cônjuge no casamento. Entre os principais direitos estão:


  • Direito à herança: o companheiro sobrevivente tem direito a uma parte do patrimônio do falecido, seguindo o regime sucessório do artigo 1.829 do Código Civil, conforme decidido no Tema 809 do STF.


  • Pensão por morte: é possível requerer a pensão junto ao INSS ou outro órgão previdenciário.


  • Partilha de bens comuns: os bens adquiridos durante a união estável são partilhados entre o companheiro sobrevivente e os demais herdeiros.



IMPEDIMENTOS PARA O RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL


Nem todo relacionamento pode ser reconhecido como união estável. Um dos principais impedimentos é a existência de um casamento formal ativo.


O Código Civil, no artigo 1.521, define que uma pessoa casada não pode constituir união estável, salvo se houver separação de fato ou judicial.


A separação de fato ocorre quando um casal, embora ainda formalmente casado, deixa de viver como marido e mulher, rompendo a convivência e os laços característicos da vida conjugal, como o compromisso afetivo, a coabitação e o compartilhamento de responsabilidades. Diferentemente da separação judicial, que é oficializada por meio de decisão judicial ou escritura pública, a separação de fato é uma situação meramente fática, que pode ser comprovada por meio de documentos e testemunhas.


Em casos onde não há separação de fato, o relacionamento paralelo é classificado como concubinato (relação afetiva mantida simultaneamente por uma pessoa casada), não sendo protegido pelo direito de família e não gerando os mesmos direitos patrimoniais e sucessórios.



DESCOBRI QUE MEU COMPANHEIRO ERA CASADO. O QUE FAZER?


Há situações em que o companheiro sobrevivente desconhecia o impedimento, como o fato de seu parceiro ser casado. Nesses casos, a união estável pode ser reconhecida como putativa, garantindo direitos até o momento em que o companheiro sobrevivente toma ciência do impedimento.


Veja este exemplo fictício: 


Sofia e Leonardo viveram juntos por cinco anos, compartilhando uma vida de amor e companheirismo. Após a morte repentina de Leonardo, Sofia descobriu que ele ainda era casado no papel e nunca havia se separado de fato. Desolada, procurou nosso escritório, sendo orientada a buscar o reconhecimento da união estável putativa, já que viveu o relacionamento em boa-fé, sem saber do impedimento. Com a ajuda de testemunhas e provas, como fotos, contratos e mensagens, Sofia ingressou com uma ação judicial.


O juiz reconheceu que, até o momento em que soube do casamento, Sofia e Leonardo mantinham uma união estável legítima. Assim, foi garantido a ela o direito à partilha de bens adquiridos durante o relacionamento. A decisão trouxe justiça e segurança, demonstrando que, mesmo diante de um impedimento, a boa-fé pode assegurar os direitos do companheiro sobrevivente.



A IMPORTÂNCIA DAS PROVAS NO PROCESSO JUDICIAL


Para o reconhecimento post mortem da união estável, o companheiro sobrevivente deve apresentar provas robustas da relação. As principais evidências incluem:


  • Documentos compartilhados: comprovantes de endereço em comum, contas conjuntas, contratos de financiamento assinados pelos dois, assinatura de clubes.

  • Provas de convivência pública: fotos, registros de viagens, mensagens e depoimentos de amigos e familiares.

  • Inclusão em planos de saúde ou previdência: demonstram o compromisso e a intenção de constituir uma família.



PASSO A PASSO PARA O RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL


O reconhecimento de uma união estável post mortem é um processo judicial que requer organização e estratégia. Entenda cada etapa detalhadamente para garantir que seus direitos sejam resguardados.


  1. Reunião de provas: o primeiro e mais importante passo é reunir o máximo de provas que demonstrem a existência da união estável, sendo este o alicerce do processo.


    As provas devem evidenciar os requisitos da união estável, sendo entre os documentos mais relevantes: contratos de aluguel ou compra de imóvel em nome de ambos; contas conjuntas; fotos que retratem momentos familiares; troca de e-mails, mensagens, e qualquer outro registro que demonstre a vida em comum. Além disso, testemunhas que conheciam o casal e podem confirmar a relação são de extrema importância.


  2. Orientação jurídica especializada: a assessoria de um escritório especializado em direito de família, com conhecimento em direito imobiliário, pode ser essencial. Esse profissional não apenas orientará sobre a documentação necessária, mas também terá um papel estratégico ao investigar possíveis bens adquiridos durante o relacionamento, especialmente imóveis que possam não ser de conhecimento do companheiro sobrevivente. Essa análise é essencial, pois, muitas vezes, bens adquiridos em nome exclusivo do falecido durante a união podem ser incluídos na partilha após o reconhecimento da união estável.


  3. Ingresso na ação judicial: com as provas reunidas e o suporte do advogado, é hora de formalizar o pedido de reconhecimento da união estável post mortem. Essa ação judicial será ajuizada no foro competente, que pode ser o da última residência comum do casal ou o do local onde o falecido residia. No pedido, o advogado deve detalhar os fatos que comprovam a relação e anexar as provas e declarações das testemunhas. É fundamental que a petição seja bem elaborada, demonstrando ao juiz que todos os requisitos legais para o reconhecimento da união estável foram cumpridos.


  4. Acompanhamento processual: após o ingresso da ação, o processo passará por diversas etapas. O juiz analisará inicialmente os documentos e poderá solicitar depoimentos das testemunhas indicadas. Caso existam herdeiros ou outros interessados que contestem a união estável, eles terão a oportunidade de se manifestar. Nesse cenário, o advogado atuará para rebater as alegações e fortalecer o caso, até a decisão final do juiz, com o devido reconhecimento.



CONCLUSÃO


O reconhecimento da união estável post mortem é um mecanismo essencial para garantir os direitos do companheiro sobrevivente. No entanto, esse processo pode ser desafiador, especialmente em casos de disputas familiares ou ausência de formalização em vida.


Se você se encontra em uma situação similar ou deseja se preparar para evitar conflitos futuros, conte com a assessoria da nossa equipe especializada. Basta clicar no botão abaixo que você será direcionado ao nosso atendimento.



Este artigo foi escrito e publicado pela advogada Tatiane Motta, especialista na área de direito imobiliário e contratual. Para maiores informações, entre em contato através do e-mail contato@tatianemotta.com.br ou no direct do Instagram @tatianefmotta. 




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